terça-feira, agosto 15, 2006

Será que ser ateu é um objectivo ?

Todas as religiões, com os seus deuses, os seus semideuses e os seus
profetas, os seus messias e os seus santos, foram criadas pela fantasia
crédula de homens que não atingiram ainda o pleno desenvolvimento e a plena
posse das suas faculdades intelectuais. Em consequência disso, o céu
religioso não passa de uma miragem na qual o homem, exaltado pela ignorância
e pela fé, reencontra a sua própria imagem, mas dilatada e invertida, isto
é, divinizada. A história das religiões, a história do nascimento, da
grandeza e da decadência dos deuses que se sucederam na crença humana, não é
mais que do que o desenvolvimento da inteligência e consciência colectivas
dos homens.

À medida que na sua marcha historicamente progressiva descobriam, em si
mesmos ou na natureza exterior, uma qualquer força, qualidade ou mesmo
grande defeito, atribuíam-no aos seus deuses, depois de os ter exagerado e
ampliado desmedidamente, como o fazem normalmente as crianças, num acto da
sua fantasia religiosa.

Graças a essa modéstia e a essa piedosa generosidade dos homens crentes e
crédulos, o Céu enriqueceu-se com os despojos da Terra e, por consequência,
quanto mais rico se tornou o Céu, mais miserável se tornou a Terra. Uma vez
instalada a divindade, foi naturalmente proclamada a causa, a razão, o
árbitro e o dador absoluto de todas as coisas: o mundo passou a ser nada, a
divindade tudo. E o homem, seu verdadeiro criador, depois de tê-la extraído
do nada, sem disso se dar conta, pôs-se de joelhos perante ela, adorou--a e
proclamou-se sua criatura e seu escravo.

O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque expõe e
manifesta, na sua plenitude, a natureza, a própria essência de todo e
qualquer sistema religioso, que é o empobrecimento, a submissão, o
aniquilamento da humanidade em benefício da divindade.

Sendo Deus tudo, o mundo real e o homem são nada. Sendo Deus a verdade, a
justiça, o bem, o belo, a força e a vida, o homem é a mentira, a iniquidade,
o mal, a fealdade, a impotência e a morte. Sendo Deus o senhor, o homem é o
escravo. Incapaz de encontrar por si mesmo a justiça, a verdade e a vida
eterna, a elas não pode chegar senão mediante uma revelação divina.

Mas quem diz revelação diz reveladores, messias, profetas, sacerdotes e
legisladores inspirados pelo próprio Deus; e, uma vez reconhecidos como
representantes da divindade na Terra, como os santos pastores da humanidade,
eleitos pelo próprio Deus para dirigir pela via da salvação, devem
necessariamente exercer um poder absoluto. Todos os homens lhes devem uma
obediência passiva e ilimitada, porque contra a razão divina não há razão
humana, e contra a justiça de Deus não há justiça terrena que lhes valha.

Escravos de Deus, os homens devem sê-lo também da Igreja e do Estado, na
medida em que este último é consagrado pela Igreja. Foi isso que o
cristianismo compreendeu melhor que todas as religiões que existem ou
existiram, sem exceptuar a maioria das antigas religiões orientais (que,
aliás, só abarcaram determinados povos, enquanto que o cristianismo tem a
pretensão de abarcar a humanidade inteira); foi isso que, entre todas as
seitas cristãs, só o catolicismo romano proclamou e realizou com uma
consequência rigorosa.

É por isso que o cristianismo é a religião absoluta, a última religião, e a
Igreja apostólica e romana a única consequente, a única coerente. Agrade ou
não aos metafísicos e aos idealistas religiosos, filósofos, políticos ou
poetas, a ideia de Deus implica a abdicação da razão humana e da justiça
humana; é a negação mais decisiva da liberdade humana e leva necessariamente
à escravidão dos homens, tanto em teoria como na prática.

Amenos que se queira a escravidão e o envilecimento dos homens, como o
querem os jesuítas, como o querem os pietistas ou os metodistas
protestantes, não podemos nem devemos fazer a menor concessão, quer ao Deus
da teologia quer ao da metafísica. Porque, nesse alfabeto místico, quem
começa por Deus deverá acabar fatalmente acabar em Deus, e quem adorar a
Deus deve, sem ilusões pueris, renunciar corajosamente à sua liberdade e à
sua humanidade. Se Deus existe, o homem é escravo. Porém, o homem pode e
deve ser livre - por conseguinte, Deus não existe.

Texto de Karl Marx



Agora a minha opiniao pessoal sobre o mesmo texto se é que me é permitido comentar Karl MArx


Muito embora o texto esteja muito elaborado e diga basicamente coisas factuais e constataveis a razão porque ele existe ou melhor a conclusão a que ele quer chegar para mim está errada.
"Se Deus existe, o homem é escravo. Porém, o homem pode e
deve ser livre - por conseguinte, Deus não existe."
Acerca da existencia da figura Deus cada um que a interprete como quiser, agora o aproveitamento que o homem dá a essa figura é que é das coisas mais castradoras que existem, a existencia de Deus e os seus objectivos são sempre em todas as religioes, seitas e outros, utilizadas para a manipulação e contenção do ser humano como livre pensador.
Quando falo em religioes não me estou a referir apenas aos sacerdotes dessas mesmas religioes mas tambem aos seus seguidores que nos seus actos diarios de convivencia com o seu semelhante tentam sempre balizar o comportamento social do individuo, quer criticando quer aconselhando quer publicitando uma ordem social que apenas existe nas suas próprias convicções.
Se olharmos com atenção a origem das crenças e mais ainda das religioes, elas geralmente são iniciadas com objectivos totalmente diferentes do que aqueles que depois vêm a ser os seus mandamentos.
Podemos olhar para Cristo e aquilo que ele representava e depois lermos as escrituras e vermos que foi exactamente uma façao que nem sequer era a mais proxima de cristo que as escreveu interpretando e moldando os actos e as palavras do homem ao seu interesse e conseguindo assim que aquele que era irmão de cristo nao tivesse nenhuma palavra nos ditos livros. Estranho não é ? a pessoa mais perto de Cristo é exactamente aquela que nao escreve sobre ele.
Mas isto não se aplica apenas ás religioes instituidas, algumas das convicções que tanto falam por aqui seguiram exactamente o mesmo metodo.
Por exemplo; o acto de tornar moda as ciencias filosoficas orientais, adaptá-las ao pensamento ocidental e passar a idolatra-las como sendo o maximo do misticismo é a versão moderna da criação do novo testamento.
Agora quanto á conclusão do que disse Karl Marx, eu tambem não concordo porque não é radicalizando e entrando no Ateismo puro que se cria o livre pensamento.
O que Marx diz é precisamente o que as religioes e seitas dizem, ao apresentar como contraponto ao dogma religioso o dogma ateu, ou seja Deus existe e pronto não se fala mais no assunto , Marx diz; Deus não existe e pronto não se fala mais no assunto.
Para mim o problema não está em Deus mas sim no "não se fala mais no assunto".
Pronto, dei a minha opinião agora cada um que tenha a sua.