quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Era do Aquário - mais uma visao

O Movimento Nova Era

por
Fernando Gabriel

Depois dos anos 60 e do fenómeno da contracultura, orientada para a rotura com instituições e os modelos herdados do passado, no sentido da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, começa-se assistir a profundas alterações nomeadamente no campo social, económico, cultural, religioso ou científico, que só tiveram paralelo no período histórico do Renascimento, o que marcou a passagem da Idade média para a Idade moderna.

Todo este movimento, associado à emergência de algo novo, de uma outra mentalidade, também tem sido associado por muitos a uma mudança de período de tempo, ao qual têm sido atribuídas expressões como "Nova Era" e "Era de Aquário".

A expressão mítica "Era de Aquário" tem como base antiquíssimas teorias astrológicas, segundo as quais o sol mudaria de signo zodiacal, em cada 2.146 anos, sendo cada era medida pelo tempo que o sol demora no seu movimento contrário ao da terra, a percorrer cada um dos doze signos do zodíaco, demorando o trânsito completo por todos os signos cerca de 25.750 anos. Segundo a astrologia, tivemos a era de Touro entre 4.300 a 2.150 a.C., a era de Carneiro entre 2.150 a.C. até ao nascimento de Jesus Cristo, e a era de Peixes, que vai do ano de nascimento de Cristo até possivelmente ao ano 2.147, à qual se seguirá a era de Aquário, na qual, para uns já entrámos, para outros, estamos apenas ainda a receber a influência dos seus primeiros raios anunciadores, perceptíveis pelas grandes transformações sociais, religiosas e científicas, que já se observam.


Kalki Avatar - aquele que anuncia o novo yuga

É curioso verificar também que outras tradições, para além da ocidental contam a passagem do tempo em ciclos. Assim, por exemplo os hindus na tradição oriental, consideram que tudo decorre de acordo com os ciclos de tempo, chamando a cada ciclo yuga, e ao conjunto de quatro yugas Manvantara. Segundo a sua tradição estamos também agora a sair da idade da deusa Kalí, do ciclo denominado kali-yuga, caracterizado pelo caos e destruição, ao mesmo tempo que estamos a chegar ao fim de um ciclo de quatro yugas (Manvantara). Para os hindus, o início do novo tempo que agora se anuncia, tem uma importância muito especial, pois corresponde não apenas à mudança de yuga, o que é muito importante, como também à mudança de um Manvantara (4 yugas correspondendo a um ciclo de 64.800 anos), que totalizam as quatro épocas ocidentais, de ouro, de prata, de bronze e a de ferro.

Comparando com a tradição ocidental é como se estivéssemos a sair da época de ferro, o último yuga (kali-yuga), para dar início a um novo período de quatro eras, um novo Manvantara, que vai começar com o krita-yuga ou idade de ouro.

Para a nossa tradição, cada era zodiacal tem certos traços específicos, cujas características são impressas nos movimentos mais significativos desses períodos astrológicos. Ao contrário da era de Peixes, que foi (ou que é ainda) um tempo de conflitos, guerras, domínios e confrontos de grandes ideologias, a era de Aquário promete ser um período de paz, harmonia e fraternidade, sendo também a era da comunicação, informação e espiritualidade, veiculada pelas mudanças a que estarão sujeitas as religiões tradicionais, bem como pelo surgimento de novos movimentos religiosos e pelo ressurgimento e recriação de tradições votadas ao esquecimento durante séculos.

A Expressão "Nova Era" surge a partir dos anos 60, para definir a mudança radical de paradigmas (estruturas de pensamento) que se vinham anunciando. Começa a tomar forma com o nascimento de uma comunidade, fundada por Petter e Ellien Caddy e Dorothy Mac Lean, em Findhorn no norte da Escócia, cuja mensagem se prendia com amor e luz, e com a convicção de que o homem é ao mesmo tempo a parte e o todo do universo, podendo viver em perfeita harmonia com a natureza e o cosmos.

Outro marco importante no desenvolvimento deste conceito, está relacionado com a fundação em 1961 da escola de Esalen, em São Francisco - Los Angeles, Califórnia, para onde convergiram psicoterapeutas, psicólogos, cientistas e artistas, todos eles célebres no mundo das pesquisas da consciência e do cérebro, à qual pertenceram, individualidades como Allan Watts, Paul Tilich, Rollo May, Carlos Castañeda, Abraham Maslow e Carl Rogers, entre outros. Ali nasceu o movimento de desenvolvimento do potencial humano o qual, segundo Michael Mac Murphy, um dos seus fundadores, é o equivalente moderno do movimento renascentista, devido à alteração de paradigmas (estruturas de pensamento), à construção de algo novo e diferente. Se as características do Renascimento foram o florescimento do individualismo e o aumento dos sincretismos religiosos misturando várias tradições, os percursores da nova era têm como objectivo a "planetarização" do individualismo religioso da subjectivação das crenças, dos sincretismos e a espiritualização do indivíduo e da sociedade através da transformação interior de cada um.
Quem melhor definiu este movimento foi a jornalista Marylin Ferguson (1980), no livro "a conspiração de Aquário," ao dizer que a Nova Era: é uma conspiração sem doutrina política, sem manifesto, com conspiradores que buscam o poder apenas para difundi-la,(....) é mais ampla que uma reforma, mais profunda que uma revolução. Essa conspiração benigna a favor de uma nova ordem, deflagrou o mais rápido realinhamento cultural da história. O grande sobressalto, a mudança irrevogável que nos está empolgando, não é um novo sistema religioso, político ou filosófico. É uma nova mentalidade - a ascendência de uma surpreendente visão do mundo que reúne a vanguarda da ciência, e visões dos mais antigos.

Marilyn Fergusson parece ter sabido interpretar as mudanças que começaram a ocorrer nas mentalidades a partir dos anos 60 e a contracultura daí resultante, que marcou as grandes transformações sociais ocorridas durante a segunda metade do século XX, e que de forma gradual tem perpassado por todas as sociedades ocidentais. Aquilo a que se chama nova era, não é algo totalmente novo, os seu elementos já se encontram nas sociedades que poderíamos considerar de pré-religiosas e nas civilizações da antiguidade clássica. Encontramos também a sua fundamentação em fontes religiosas orientais (como o budismo, o taoísmo ou o hinduísmo), e também no cristianismo primitivo, bem como nas ciências herméticas surgidas durante o Renascimento tais como, a alquimia, a magia, e o ocultismo dado que a nova era denota um carácter ecléctico e globalizante.

Este algo novo não é originado apenas por uma rejeição do mundo moderno, nem por um regresso ao passado, é antes uma recriação para dar respostas válidas e actuais ao momento presente, fazendo confluir numa mesma sociedade elementos antigos e do mundo actual, do oriente e do ocidente, todos em simultâneo.