sábado, abril 02, 2005

Uma visão sobre a incerteza



INCERTEZA
Ernesto Ladeira

A incerteza é ela também em si mesma uma constante da vida - Própria da natureza de todas as coisas vivas, menos vivas ou mesmo inertes. São incertos o dia e a hora do nascimento e da morte. E todo o intervalo entre estes dois acontecimentos singulares das nossas existências é povoado de cordilheiras e cordilheiras de incerteza.
Incerteza é, pois, o pão nosso de cada dia das nossas vidas e de tudo quanto à nossa volta nos rodeia. Di-lo insistentemente a nossa experiência do quotidiano e explica-o e confirma-o o princípio da incerteza da ciência quântica.
Se assim é como tudo leva a crer, se de facto é uma certeza indiscutível de que a incerteza também comanda a vida - e de que maneira! - então é tempo, mais que tempo, de a tomarmos muito a sério. Ou seja, há que aprofundar, desenvolver e leccionar uma filosofia consistente da evitação da incerteza que alimente e suporte - a todos os níveis - uma cultura da superação da incerteza até aos seus limites superiores, humanamente possíveis. Uma nova cultura de prevenção da incerteza sempre presente, que seja preocupação máxima, prioritária e constante, no antes, durante e depois de todas as decisões.
Para a prática e suporte de uma tal cultura de exigência não faltam, nos tempos que correm, os meios requeridos - know-how, hardware e software, aos montões! Mas tudo fracassará se não assentar numa outra cultura, a cultura de responsabilidade, competência e profissionalismo (amor à camisola) - também aqui a todos os níveis.
Ajudar a vencer a força da gravidade (cuidado com esta bicha!) foi a nossa profissão. E tomáramos nós que a "máquina humana" fosse tão acarinhada, controlada e vigiada como o eram (e são) as aeronaves e seus componentes.
Tudo o que trabalha mexe, funciona, degrada-se ; tudo o que está sujeito a esforços mecânicos prolongados, muitas vezes nos limites ou em condições de extrema severidade, tem que ser continuamente vigiado e controlado, mantido e recuperado para novos e sucessivos ciclos de vida, mantendo-se sempre os padrões de segurança, eficiência e eficácia originais. Custa muito dinheiro, sim senhor, mas não há outra lógica nem outra saída quando estão em causa vidas humanas. Uma que seja!
Mas (e há sempre um mas) há "incertezas incertas" insondáveis, de todo imprevisíveis, perfeitamente aleatórias e normalmente exteriores ao processo. Para essas não há previsões ou controlos que nos possam valer. Incertezas ocultas, fechadas a sete chaves!
As incertezas tendem a crescer cada vez mais à medida que aumentam os níveis de agressão (lato sensu) ao meio ambiente. Na verdade quem esperaria (também aqui em Portugal) um Inverno tão chuvoso que nos fustigou sem dó nem piedade desde Novembro do ano passado? Quem contaria com uma tal invernia que varreu de lés a lés o País, disparando muitas das incertezas ocultas, pendentes?
Um poder económico avassalador, desenfreado (lucro a todo o custo!) e um consumismo desbragado (inconsequente!) que lhe está associado, alastram por todo este planeta. Consequências? – Aí estão à vista de todos! E as alterações climatéricas, já dramaticamente evidentes, não são o único factor de incertezas. Muitos outros há, que crescem sem cessar e nos vão deixando cada vez mais confusos e perplexos. Escusamo-nos de os enumerar aqui, por sobejamente badalados pelos medias.
Entretanto, os políticos de todo o mundo, andam às aranhas, à nora, com este impetuoso crescendo do poder económico. Onde é que isto vai parar? Tudo começa a ser posto em causa! À globalização, que já ninguém consegue parar, e que em si mesma não seria problema de maior, há que fazer-lhe oposição no plano das regras e dos princípios - Não sendo assim, a ética e a moral tradicionais (ainda indiscutíveis, julgamos nós) correm perigo e as incertezas crescem sem cessar!
E porque também todos e cada um de nós somos também incertezas ou agentes delas (e de que maneira!), então comecemos nós próprios desde já e de uma vez por todas, a prevenir e a evitar, em primeiríssima mão e o mais possível, a incerteza e os riscos que esta comporta, concretizados tantas vezes de forma tão dramática quanto inesperada.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Se, pelo menos fizermos a nossa parte, já estamos a pôr um grão de areia na praia! Não agir é alinhar na incerteza. Dad

11:04 da manhã  

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