domingo, abril 16, 2006

O Evangelho de Judas - Um tema que fará correr muita tinta

Ninguém pode dizer que Judas o escreveu, mas o seu Evangelho ressurge em Basiléia. Depois de dois mil anos semeando a discórdia entre os primeiros cristãos, o Evangelho Segundo Judas, com o nome do apóstolo que traiu Jesus, veio à tona na Suíça, onde está a ser traduzido por uma equipa dirigida por Rudolf Kasser, da Universidade de Genève. O manuscrito de papiro redigido em copta, antiga língua dos cristãos do Egito, deverá surgir em alemão, inglês e francês no espaço de um ano, segundo a Fundação Maecenas para a Arte Antiga, de Basiléia.

A existência do Evangelho Segundo Judas, cujo original está, provavelmente escrito em grego, foi atestado pelo primeiro bispo de Lyon, Santo Irineu, que, no meio do século II, o denunciou num texto contra as heresias. Segundo a tradição, Judas entregou Jesus aos romanos que o crucificaram. Arrependido, ter-se-ia enforcado. O mistério permanece no que se refere aos autores da obra, descoberta no Egito há cerca de meio século e comprada pela fundação suíça em 2001.

Ninguém pode afirmar que Judas em pessoa o terá escrito “, refere Roberty, acrescentando que os outros evangelhos não saíram provavelmente também da pluma dos supostos autores”.No concílio de Nicéia (Turquia), reunido em 325 por iniciativa do primeiro imperador romano cristão, Constantino, a Igreja nascente considerou apenas os quatro evangelhos como transmissores dos ensinamentos de Cristo. Somente os textos atribuídos aos evangelistas Marcos, João, Lucas e Mateus se mantiveram. Uma trintena de outros textos foi afastada, por serem considerados "inconciliáveis com aquilo que Constantino queria manter como doutrina política”. Contrastando com eles, o texto de Judas "põe em causa princípios políticos da doutrina cristã, permitindo uma certa reabilitação da personagem:” Judas é uma das justificações do cristianismo na sua visão anti-semita.”“.

Quanto ao conteúdo, segundo estudiosos que tiveram acesso a copia de alguns trechos, não há duvidas. O código transcreveria o "evangelho de Judas", um apócrifo do século um. Os evangelhos são a principal fonte de informações sobre Jesus Cristo. A igreja reconhece quatro, que define como canônicos: Mateus, João, Marcos e Lucas.

Os apócrifos não têm autoridade canônica, mas influenciaram a interpretação da história e a maneira como ela foi reproduzida através da arte. Na opinião de alguns estudiosos, o documento poderá revolucionar o modo de entender a primeira fase do cristianismo. E dar uma nova imagem ao homem que traiu Jesus com um beijo. O "evangelho de Judas" teria sido escrito por membros da seita gnóstica cainita, um movimento religioso cristão que misturava misticismo e filosofia e influenciou grupos heréticos. Na visão dos cainitas, Judas Iscariotes teria seguido um desígnio divino e não podia fugir de seu destino. A traição faria parte do plano de Deus, era necessária, e sem ela não haveria salvação para os homens.

A existência desse evangelho e sua interpretação da figura do apóstolo, considerado maldito, é comprovada por diversos autores, entre eles S. Irineu, no texto Contra as Heresias, escrito em 180. Para São Lucas e São João, Judas traiu porque estava possuído pelo demônio. “No evangelho apócrifo, Judas se arrepende. Jesus o perdoa e manda para o deserto, fazer exercícios espirituais. Nos evangelhos canônicos ele se suicida. Não há sinal de perdão, apesar de Jesus ter ensinado a perdoar os próprios inimigos. Mas por que esse Evangelho, além de outros tantos, não foi sequer divulgado para o público?”.

Esse Evangelho de Judas era à base de outras seitas gnósticas independentes, tais como os cainitas (erroneamente chamados de adoradores de Satã ou mesmo de vampiros) e dos marcionitas (seguidores do Mestre gnóstico Marción).

Irineu, nesse seu escrito antignóstico, sustentava que o Evangelho de Judas era una “história fictícia” que a seita dos cainitas (seguidores de Caim) havia escrito “ao estilo dos evangelhos”. Os cainitas (segundo o próprio Irineu) acreditavam que Judas tinha conhecimentos secretos, e que a meta de Judas era “causar confusão nos céus e na terra”.

Bem, esperamos que a tradução e publicação do Evangelho de Judas se faça para breve.
Gostaria de saber se tal descoberta mudará algo no mundo, nas religiões e na consciência de cada um de nós. No entanto, tenho certeza que a Bíblia, as tradições católicas não mudarão. Algumas se não muitas pessoas se recusam para o novo. Mas é inevitável conscientizar-nos que ao menos somaremos conhecimento e que devemos ter em mente, que nem tudo está exposto a nós e que há ainda muita coisa por detrás do véu, isso é certo e claro como o dia!
Sem dúvidas é uma descoberta cientifica que causará muita polêmica e até mesmo algumas desavenças e divergências de idéias.

Ainda mais que agora, época, quando estamos revivendo toda a passagem bíblica da Páscoa. Mas fica a pergunta no ar: “No sábado de aleluia próximo, você malhará o Judas da mesma forma que antes desta descoberta? Creio que não... algo de certo vai mudar...”.