domingo, agosto 20, 2006

HISTÓRIA DOS CIGANOS

Gypsies, gitanos, zíngaros, ciganos...

Há poucos registos sobre a origem dos ciganos, que permanece um mistério. O que hoje se sabe, graças a indícios nos vários dialectos do seu idioma – o romani – é que vieram do norte da Índia para o Médio oriente há cerca de mil anos. Trabalhavam como menestréis e mercenários, ferreiros e artistas, damas de companhia e aios. Acreditando que os ciganos vinham do Egipto, os ingleses chamaram-nos de "gypsies". Porém, os ciganos chamam a si próprios "roma", que significa "homem" no seu idioma.

Distribuiram-se por várias zonas da Europa, mas as razões históricas que levaram ao seu nomadismo devem-se essencialmente à sua difícil integração social. Devido ao tom escuro da sua pele, eram vistos nas terras onde chegavam pelos gadje (estrangeiros em romani) como malditos ou enviados do demónio. Por outro lado, o facto de alimentarem práticas de quiromancia e adivinhação fez com que fossem repudiados pela Igreja Católica e pelas diferentes religiões cristãs.

Na Europa, a perseguição aos ciganos não se fez esperar. O Estado, que viu no seu nomadismo uma ameaça social, mais propriamente através da Inquisição, desencadearam os seus mecanismos de perseguição. Os ciganos foram assim proibidos de usar os seus trajes típicos, cujas cores berrantes e gosto extravagante fugiam à norma social, de falar a sua língua, de viajar, de exercer os seus ofícios tradicionais ou até mesmo de se casar com pessoas do mesmo grupo étnico. Isto fez com que os traços fisionómicos doa ciganos se alterassem, e por isso não é hoje invulgar encontrar ciganos de olhos claros e cabelo louro. Em alguns países foram mesmo reduzidos à escravidão: na Roménia, os escravos ciganos só foram libertados em meados do séc. XIX. Em períodos mais recentes, juntamente com os judeus, prevê-se que talvez cerca de meio milhão tenha perecido no Holocausto nazi. Os seus cavalos foram mortos a tiro, os seus nomes alterados (daí que não seja invulgar encontrar ciganos com nomes dos gadje) e as suas mulheres foram esterilizadas. Os seus filhos foram brutalmente retirados às suas famílias e entregues a famílias não-ciganas. Esta prática foi vigente na Suíça até 1973.

No entanto, e apesar destas chacinas e perseguições, o nº de ciganos vem aumentando. Estima-se que hoje existam entre 8 a 12 milhões de ciganos dispersos pela Europa, o que os torna a minoria mais populosa do continente europeu. É difícil determinar o nº exacto, pois há ainda muitos ciganos vivendo na ilegalidade e sem qualquer registo. Centenas de milhares de ciganos emigraram para o continente americano. Os ciganos, ao contrário dos judeus, nunca demonstraram um desejo de ter o seu próprio país, assumindo-se párias. Nas palavras de Ronald Lee, escritor cigano nascido no Canadá, "a pátria dos roma é onde estão os meus pés".

No passado, os ciganos eram frequentemente punidos com a deportação. Alguns chegaram à América do Norte como prisioneiros ou servos sobre contrato, pouco após o desembarque em Plymouth dos primeiros colonos ingleses em 1620. Foram expulsos da Inglaterra por força de várias leis, entre as quais a Lei para o Castigo de Malfeitores, Vagabundos e Mendigos Inveterados, do séc. XVI. Porém, a maioria dos ciganos que hoje vivem nos EUA - as estimativas variam de 75 mil a 1 milhão - veio da Europa Central e Leste Europeu.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos ciganos das áreas rurais da Eslováquia foram forçados pelos governos a trabalhar nas fábricas da Morávia e da Boémia, as regiões centrais, mais industrializadas, do território checo. Porém, em 1989, com a Revolução de Veludo e o fim do comunismo no país, os ciganos foram os primeiros a perder os seus empregos, até então garantidos por um regime que pregava a igualdade e homogenia social. É verdade que existe uma pequena e assimilada elite intelectual cigana, mas a maioria dos ciganos da Europa Central ainda vivem em esquálidos cortiços das grandes cidades. Junte-se a isso as perspectivas económicas sombrias, um surto de ataques neonazis e o fascínio que a prosperidade ocidental exerce e temos um panorama desolador da região do mundo que mais ciganos alberga. O resultado é que milhares de ciganos emigram para países ocidentais, onde trabalham ilegalmente, pedem esmola ou buscam asilo político. Alarmada, a União Europeia reage reprimindo a imigração e restringindo tanto os ciganos como os gadje. É curioso revelar que, em países como a Roménia, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia e Bulgária, dos requisitos para a integração da UE faz também parte o fim de medidas discriminatórias contra os ciganos.

Ao pesquisar a origem de muitas palavras do idioma romani, delineia-se uma trilha geográfica que permite localizar os romas na Índia, há mil anos atrás. Uma teoria sugere que os romas saíram da Índia para fugir dos muçulmanos. Depois de atravessarem a Pérsia e viverem durante séculos no Império Bizantino, foram para norte no séc. XIV. Portugal foi um dos países que deportou muitos ciganos para as suas colónias, neste caso África e Brasil.

No final do séc. XIX houve uma terceira migração de romas do leste Europeu para os EUA. Sem pátria, num mundo onde tudo muda a uma velocidade alucinante, o destino previsto para os romas é, muitas vezes, sombrio. Mas a história comprova que o grande talento deles foi conseguir sobreviver à hostilidade dos seus hospedeiros, sempre infinitamente mais poderosos. Para resistir aos golpes da animosidade e ao abraço forçado da assimilação, permaneceram fiéis ao espírito livre do seu povo.