domingo, agosto 20, 2006

Ciganos e Les-Saintes-Maries

TODOS OS ANOS, NO DIA 24 DE MAIO, cerca de 10 mil ciganos vindos de toda a Europa convergem para Les-Saintes-Maries-de-la-Mer, uma vila de 2.500 habitantes que se estende pelas duas margens do delta do Ródano. Trá-los aqui festa da sua santa padroeira, a Negra Sara. Santa Sara não é de todo uma santa ver-dadeira: mas condiz bem com este povo de eternos marginais, que até um intruso têm como santo patrono.

Estes ciganos são católicos romanos que abraçaram a lenda da Negra Sara, serva de Maria Jacob e Maria Salomé, tias de Jesus. Após a Crucificação, foram expulsas pelos romanos enfurecidos para o mar, num barco sem remos, e vieram dar à costa aqui, na Camarga, região francesa de criadores de gado. A imagem de madeira negra de Santa Sara, resplandecente na sua tiara de ouro e vestido de renda cor-de-rosa, guarnecido de lantejou-las, está guardada numa cripta abobadada sob a igreja da vila. (Não se tratando de uma verdadeira santa, a efígie não pode ser exibida no solo consagrado da capela, em cima.) Lá dentro, o calor é intenso, devido às chamas de um milhar de velas votivas. Os peregrinos ciganos passam a mão pelo rosto da santa, já gasto do contacto de tantos dedos, alguns deixando os sapatos em oferenda, a seus pés. Notas de agradecimento, fotografias e ofertas enchem por completo a caixa das esmolas, e as paredes estão literalmente cobertas com placas em testemunho de gratidão: pelo nascimento de um bebé, pela recuperação de uma mãe.

Embora ainda faltem alguns dias para a cerimónia – o banho ritual da estátua nas águas do Mediterrâneo –, já estão estacionadas nos acampamentos municipais 1.600 caravanas de ciganos. Na maior parte, são casas sobre rodas, com antenas parabólicas aparafusadas ao revestimento de alumínio. E os ciganos que nelas vivem vestem "T-shirts" e sapatos Nike e tagarelam, sem parar, ao telemóvel.

Mas os moradores de Les-Saintes-Maries não são anfitriões entusiásticos: alguns comerciantes foram embora e deixaram as lojas entaipadas. De Montpellier foi chamado um corpo especial de 200 elementos da polícia anti-motim e um helicóptero. O presidente da câmara convocou uma conferência de imprensa para recordar o caos provocado pelas anteriores peregrinações ciganas (às quais acorrem outros tantos turistas não-ciganos): montanhas de lixo dispersas pelo chão, roubos, embriaguez e danos materiais.

extracto de artigo da National Geography Magazine

HISTÓRIA DOS CIGANOS

Gypsies, gitanos, zíngaros, ciganos...

Há poucos registos sobre a origem dos ciganos, que permanece um mistério. O que hoje se sabe, graças a indícios nos vários dialectos do seu idioma – o romani – é que vieram do norte da Índia para o Médio oriente há cerca de mil anos. Trabalhavam como menestréis e mercenários, ferreiros e artistas, damas de companhia e aios. Acreditando que os ciganos vinham do Egipto, os ingleses chamaram-nos de "gypsies". Porém, os ciganos chamam a si próprios "roma", que significa "homem" no seu idioma.

Distribuiram-se por várias zonas da Europa, mas as razões históricas que levaram ao seu nomadismo devem-se essencialmente à sua difícil integração social. Devido ao tom escuro da sua pele, eram vistos nas terras onde chegavam pelos gadje (estrangeiros em romani) como malditos ou enviados do demónio. Por outro lado, o facto de alimentarem práticas de quiromancia e adivinhação fez com que fossem repudiados pela Igreja Católica e pelas diferentes religiões cristãs.

Na Europa, a perseguição aos ciganos não se fez esperar. O Estado, que viu no seu nomadismo uma ameaça social, mais propriamente através da Inquisição, desencadearam os seus mecanismos de perseguição. Os ciganos foram assim proibidos de usar os seus trajes típicos, cujas cores berrantes e gosto extravagante fugiam à norma social, de falar a sua língua, de viajar, de exercer os seus ofícios tradicionais ou até mesmo de se casar com pessoas do mesmo grupo étnico. Isto fez com que os traços fisionómicos doa ciganos se alterassem, e por isso não é hoje invulgar encontrar ciganos de olhos claros e cabelo louro. Em alguns países foram mesmo reduzidos à escravidão: na Roménia, os escravos ciganos só foram libertados em meados do séc. XIX. Em períodos mais recentes, juntamente com os judeus, prevê-se que talvez cerca de meio milhão tenha perecido no Holocausto nazi. Os seus cavalos foram mortos a tiro, os seus nomes alterados (daí que não seja invulgar encontrar ciganos com nomes dos gadje) e as suas mulheres foram esterilizadas. Os seus filhos foram brutalmente retirados às suas famílias e entregues a famílias não-ciganas. Esta prática foi vigente na Suíça até 1973.

No entanto, e apesar destas chacinas e perseguições, o nº de ciganos vem aumentando. Estima-se que hoje existam entre 8 a 12 milhões de ciganos dispersos pela Europa, o que os torna a minoria mais populosa do continente europeu. É difícil determinar o nº exacto, pois há ainda muitos ciganos vivendo na ilegalidade e sem qualquer registo. Centenas de milhares de ciganos emigraram para o continente americano. Os ciganos, ao contrário dos judeus, nunca demonstraram um desejo de ter o seu próprio país, assumindo-se párias. Nas palavras de Ronald Lee, escritor cigano nascido no Canadá, "a pátria dos roma é onde estão os meus pés".

No passado, os ciganos eram frequentemente punidos com a deportação. Alguns chegaram à América do Norte como prisioneiros ou servos sobre contrato, pouco após o desembarque em Plymouth dos primeiros colonos ingleses em 1620. Foram expulsos da Inglaterra por força de várias leis, entre as quais a Lei para o Castigo de Malfeitores, Vagabundos e Mendigos Inveterados, do séc. XVI. Porém, a maioria dos ciganos que hoje vivem nos EUA - as estimativas variam de 75 mil a 1 milhão - veio da Europa Central e Leste Europeu.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos ciganos das áreas rurais da Eslováquia foram forçados pelos governos a trabalhar nas fábricas da Morávia e da Boémia, as regiões centrais, mais industrializadas, do território checo. Porém, em 1989, com a Revolução de Veludo e o fim do comunismo no país, os ciganos foram os primeiros a perder os seus empregos, até então garantidos por um regime que pregava a igualdade e homogenia social. É verdade que existe uma pequena e assimilada elite intelectual cigana, mas a maioria dos ciganos da Europa Central ainda vivem em esquálidos cortiços das grandes cidades. Junte-se a isso as perspectivas económicas sombrias, um surto de ataques neonazis e o fascínio que a prosperidade ocidental exerce e temos um panorama desolador da região do mundo que mais ciganos alberga. O resultado é que milhares de ciganos emigram para países ocidentais, onde trabalham ilegalmente, pedem esmola ou buscam asilo político. Alarmada, a União Europeia reage reprimindo a imigração e restringindo tanto os ciganos como os gadje. É curioso revelar que, em países como a Roménia, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia e Bulgária, dos requisitos para a integração da UE faz também parte o fim de medidas discriminatórias contra os ciganos.

Ao pesquisar a origem de muitas palavras do idioma romani, delineia-se uma trilha geográfica que permite localizar os romas na Índia, há mil anos atrás. Uma teoria sugere que os romas saíram da Índia para fugir dos muçulmanos. Depois de atravessarem a Pérsia e viverem durante séculos no Império Bizantino, foram para norte no séc. XIV. Portugal foi um dos países que deportou muitos ciganos para as suas colónias, neste caso África e Brasil.

No final do séc. XIX houve uma terceira migração de romas do leste Europeu para os EUA. Sem pátria, num mundo onde tudo muda a uma velocidade alucinante, o destino previsto para os romas é, muitas vezes, sombrio. Mas a história comprova que o grande talento deles foi conseguir sobreviver à hostilidade dos seus hospedeiros, sempre infinitamente mais poderosos. Para resistir aos golpes da animosidade e ao abraço forçado da assimilação, permaneceram fiéis ao espírito livre do seu povo.

A CAPELA DE ROSSLYN

A Capela de Rosslyn

“O vinho é forte

o Rei é mais forte,

as mulheres mais fortes ainda

mas a verdade conquista tudo.”

Inscrição no interior da capela

Por fora, é uma rústica catedral gótica. Mas por dentro, é uma sinfonia em pedras esculpidas, onde cada centímetro do interior da capela é coberto com símbolos. E construída de acordo com a “sagrada geometria”.

A Capela de Rosslyn está localizada a dez quilômetros ao sul de Edimburgo, em Lothian, Escócia. É nesta capela que pairam segredos e mistérios que envolvem os templários e que culminam em lendas sobre esta construção ser o paradeiro do Santo Cálice, ou de grandes conhecimentos secretos ali escondidos pelos Cavaleiros da Ordem do Templo.

Foi construída quase 150 anos após a supressão da Ordem Templária. Os próprios domínios de Rosslyn ficavam a poucos quilômetros do antigo quartel-general escocês dos templários.

Por mais de 40 anos e pelo custo de uma fortuna, o terceiro e último “Jarl” (conde) de Orkney, Sir William St Clair (posteriormente o sobre nome seria escrito “Sinclair”), de Rosslyn desenhou e construiu uma Capela. Segundo a lenda local, Sir William Sinclair temia que os “segredos” caíssem em mãos erradas ou se perdessem. Temia escrever, pois poderia ser queimado ou destruído, e temia a tradição oral, pois algo poderia se perder, ou gerações poderiam deforma-los ou ainda não passar adiante tais conhecimentos por motivos de morte prematura. Sendo assim, preferiu ele construir a capela, que seria considerado um verdadeiro “Livro de Pedra”, onde estariam em suas paredes registrados todos os segredos e conhecimentos que se queriam preservar. Conhecimentos estes que só poderiam ser lidos e interpretados corretamente se houvesse a posse da “chave” certa.

Interior da Capela de Rosslyn.

O fato de Sir William ter escolhido uma igreja para ocultar tais segredos faz sentido. Afinal, uma capela não traria desconfiança da Igreja. Até mesmo a palavra escolhida para o batismo da Igreja, “Rosslyn”, possui significado: “o lugar onde se oculta o segredo”, em hebraico.

Interior da Capela de Rosslyn.

A Obra:

A pedra de fundação foi colocada no dia de São Mateus, 21 de setembro de 1446. A orientação é do leste para o oeste. Esta posição foi marcada a partir do nascer do sol dessa data, como era de costume dos pedreiros da época. Outro costume é usar uma figura geométrica para definir a planta baixa. No caso da Capela de Rosslyn, foi usado um triângulo eqüilátero.

Infelizmente a planta original se perdeu, deixando assim especulações se a planta atual é espelho dos planos originais. O motivo da dúvida está em suas fundações, que são bem maiores que a capela. As dimensões da capela atual estão situadas no que seria apenas o coro das fundações encontradas nas escavações do século XIX. Caso seja verdade, porque abandonaram o plano original? Falta de recursos? Mudança de planos? Outra peculiaridade da capela é o fato de seu layout ser completamente assimétrico. Isto é, completamente fora dos padrões da época.

O interior da Capela:

Corte da Capela, demonstrando a influência de símbolos templários na arquitetura.

A Ordem do Templo está muito bem representada nas paredes da Capela de Rosslyn. A planta da capela é baseada na cruz templária, e uma figura em alto relevo mostra dois cavaleiros em um cavalo, em uma alusão ao Selo da Ordem.

Além disso, está representada em suas paredes:

  • José de Arimatéia portando o Santo Graal;
  • Uma imagem semelhante a do Santo Sudário;
  • Imagem do deus nórdico Mimir, ou o 'Homem Verde'.
  • 200 imagens do deus nórdico Mimir, também chamado de Homem Verde (às vezes relacionado com o deus babilônico Tammuz);
  • Figuras de reis, pontífices, cavaleiros... Todos sendo seguidos por uma figura parecendo um esqueleto, talvez representando a morte;
  • O deus grego Hermes, em alusão ao hermetismo;
  • A coluna chamada “Coluna do Aprendiz”, que mostra a “árvore da vida” da cabala.
O interior da Capela de Rosslyn e a Coluna do Aprendiz.

Existe uma lenda em torno da “Coluna do Aprendiz”, segundo os escritos feitos pelo Dr. Forbes, bispo de Caithness em 1774. Diz a lenda que um mestre pedreiro (The Master Mason) recebeu a tarefa de esculpir uma pilastra, única e maravilhosa, mas suas habilidades não eram suficientes para tal empreitada. Por isso foi a Roma para aprender a técnica correta para concluir seu trabalho. Ao voltar, viu que seu aprendiz havia esculpido a pilastra com maestria. O mestre pedreiro, com inveja e ódio, matou o aprendiz com um golpe na cabeça com seu malhete. O mestre pedreiro teve que pagar pelo seu crime. O aprendiz ficou imortalizado com sua cabeça esculpida no interior da capela. Ao seu lado esquerdo está a escultura da cabeça de sua mãe. Em nenhum ponto se encontra o pai do aprendiz. Alguns acreditam que o aprendiz era filho de uma viúva. Esta lenda é muito semelhante a lenda do mestre Hiram Abiff, mestre construtor do Templo do Rei Salomão.

Vista de outro ângulo da Coluna do Aprendiz: as esculturas dos dragões.

Em várias culturas encontra-se elos que ligam o sacrifício a renovação. Com a capela de Rosslyn, as influências nórdica e celta são bem claras. A Coluna do Aprendiz é obviamente uma representação a Árvore da Sabedoria, chamada de “Yggdrasil”, na qual Odin, divindade máxima do panteão nórdico fez seu sacrifício para obter o segredo da sabedoria da cabeça decepada do deus Mimir. Seu sacrifício foi recompensado com as Runas. A Coluna do Aprendiz possui esculturas dos dragões de Neilfelheim, deitados, alimentando-se das raízes de Yggdrasil.

No interior da capela, escultura de plantas existentes apenas no continente americano.

Segundo a lenda, Odin se pendurou em Yggdrasil por nove dias, ferido pela própria lâmina, atormentado pela fome, pela sede e pela dor, sem auxílio e sozinho até que, antes de cair, avistou as Runas e conseguiu apanha-las, em um último e tremendo esforço. Em termos judaico-cristãos, o sacrifício de Odin possui semelhanças com o de Jesus. Inclusive a imagem “oficial” de Jesus se assemelha a de Odin: cabelos e barbas longas.

Existem ainda alguns mistérios estritamente ligados à teoria de Oak Island. Esculpidas na parede de Rosslyn, encontrasse uma escultura enorme onde se identificam elementos como o milho e várias folhas de babosa. Plantas que só havia na América, sendo que Colombo só iria “descobrir” o novo mundo meia década depois da escultura.

Rosslyn está longe de ser uma típica capela cristã. Mesmo que William St Clair tenha construído a capela para glória de Deus, é estranho que poucos símbolos cristãos são encontrados em seu interior.


Rosslyn, os Sinclair e os Templários

ligação entre os Sinclairs e os Templários já remonta a própria fundação da ordem. O fundador e primeiro Grão-mestre da Ordem do Templo, Hugo de Payens, foi casado com Catherine St Clair. Hugo e Catherine visitaram as terras dos St Clair de Rosslyn e lá estabeleceram a primeira comendadoria dos Templários na Escócia, no qual se tornaria o quartel-general naquele país. Além do casamento entre Hugo e Catherine, muitos outros St Clairs foram iniciados na Ordem do Templo, assim como grandes doações a Ordem foram provenientes desta família. Vista lateral da Capela de Rosslyn.

Essa ligação foi tão forte que, depois da queda dos Templários, muitos cavaleiros conseguiram refúgio seguro na Escócia. Haja visto que, nessa mesma época, a Escócia fora excomungada. Muitos templários acabariam ajudando então a Robert the Bruce na famosa batalha de Bannockburn, no dia 24 de junho de 1314 (dia de São João). Nessa batalha a forças de Robert romperam os grilhões com a Inglaterra. Uma sociedade secreta contemporânea chamada "Scottish Knight Templar" – Cavaleiros Templários da Escócia – ainda hoje comemora a batalha de Bannockburn na Capela Rosslyn o dia em que “o véu foi levantado dos Cavaleiros Templários”. Um dos cavaleiros templários que lutou ao lado de Robert the Bruce foi Sir. William St Clair, morto em 1330 e enterrado em Rosslyn. Esta famosa batalha fora recentemente narrada, de forma romântica, no filme “Coração Valente”, estrelado por Mel Gibson, onde o mesmo interpreta o papel de William Wallace, herói local na época que lutava pela independência da Escócia.

O fato dos Sinclairs tomarem a iniciativa de construírem uma capela cristã é, no mínimo, curioso. Sabe-se que, na Idade Média, as atividades dos Sinclairs eram de promover celebrações ditas na época “pagãs”, assim como proporcionar acampamentos seguros aos ciganos (o povo cigano é conhecido por cultuarem a Santa Sara Kali, e a lenda da Virgem Negra e o Santo Graal). Muitas autoridades acreditavam haver uma “Virgem Negra” na cripta da Capela de Rosslyn.

São João, Os Sinclair e a Maçonaria:

“Na tradução de escritos de Renè d’Anjou’s sobre cavalaria e governo, num canto da folha está escrito:

Somando o nome de São João

ao nome de Jesus e Maria é

incomum, mas ele foi venerado

pelos gnósticos e pelos

Templários...

Outro contundente atributo do rodapé é o uso do Agnus Dei, o cordeiro de Deus... Na Capela Rosslyn, o Selo Templário e o Cordeiro de Deus também estão esculpidos.”

Andrew Sinclair – The Sword and the Grail (1992)

Curiosamente, São João foi uma constante cultuada por templários, Sinclairs e Maçonaria. Assim como a sua data, 24 de junho, é data de grandes acontecimentos:

  • 24 junho 1314 – Batalha de Bannockburn: os Templários ajudam Robert the Bruce a tornar a Escócia livre da Inglaterra. O Templário Sir William St Clair faz parte dessa batalha;
  • 24 de junho de 1717 – Fundação da Grand Lodje of London: a data oficial da fundação da maçonaria moderna e especulativa;
  • 24 de junho de 1837 - maçons escoceses em assembléia: esta decidiu que se enviassem e renovassem os títulos de todas as lojas escocesas. E pediram a renúncia que fazia o chefe da família Rosslyn, William St Clair, ao Grão-Mestrado dos maçons da Escócia. Assim aceita esta renuncia, seguidamente foi aclamada a Grande Loja Maçônica.

Mesmo com todo o mistério, a construção dessa capela, ficou por conta das corporações de artífices nas quais os St Clairs eram senhores há séculos. Sob orientação dos St Clairs, os membros escolhiam os candidatos adequados para receber suas instruções ligadas a construção e “geometria sagrada”. Temas como geometria, história, filosofia, entre outros. Essa nova irmandade de pedreiros-livres criou uma instituição de caridade para apoiar os membros mais pobres da sociedade.

Entretanto, não se pode deixar passar o fato de que os Templários forma os precursores do estilo gótico. E chegaram a estabelecer uma regra de vida e trabalho a uma corporação de ofício chamada “Filhos de Salomão”. Com a queda da Ordem, muitos se refugiam na Escócia. As corporações de pedreiros-livres da Escócia também dá acolhimento aos templários.

Nascia, assim, o primeiro modelo de Maçonaria: pedreiros e não pedreiros, versados em altos conhecimentos, que se reuniam em uma confraria e faziam caridade.

Rosslyn e o Santo Cálice:

Parece que o cerco sobre o Santo Cálice realmente culmina em Rosslyn. Como foi visto anteriormente, é natural a especulação sobre a posse do Santo Graal por parte da Ordem do Templo, desde as Cruzadas, ou mesmo devido ao estreito relacionamento da Ordem com os cátaros, no sul da França, onde estes poderiam ter custodiado o Santo Graal desde os primórdios do desembarque do genro de Arimatéia naquela região. Na mesma linha de raciocínio, temos a perseguição aos templários e o refúgio destes na Escócia, sobre a proteção de Robert the Bruce. Por fim, temos Rosslyn.

O investigador Trevor Ravenscroft reivindicou em 1962 a descoberta do paradeiro do Santo Graal em Rosslyn, contradizendo-se com relação à natureza do Santo Graal. Ravenscroft apresenta uma confusa teoria, ora alegando o Graal ser um objeto, ora alegando o Graal ser uma forma de segredo ou conhecimento, afirmando que o paradeiro do Santo Graal está no interior da Capela.

Sua pesquisa de mais de vinte anos a procura do Santo Graal revela que as paredes da Capela de Rosslyn são documentos que registram segredos ainda ocultos para o público em geral, ao mesmo tempo em que afirma existir um objeto encravado no Pilar do Aprendiz. Este objeto fora detectado utilizando detectores de metais e concluiu-se, nestes procedimentos, que realmente haveria um objeto na pilastra do tamanho apropriado para um cálice e exatamente no meio desta. Os responsáveis atuais pela capela recusam-se a permitir que o pilar seja radiografado

Complexo de Electra


O equivalente feminino do Complexo de Édipo tomou o nome de Complexo de Electra, expressão introduzida por Yung.
Segundo um mito grego Electra teria concebido da sua união com Zeus a Harmonia. Mas sobretudo a personagem de Electra é especialmente conhecida pela tragédia grega como sendo filha de Agamémnon, rei de Micenas e chefe das forças gregas contra Tróia, e de Clitemnestra, a qual era amante de Egisto. Este com a sua amante planeavam matar Agamémnon, depois do seu regresso da guerra, e usurpar o trono. Electra sente-se devorada pelo desejo de vingar o pai, a quem muito amava, fazendo com que matem sua mãe e o amante. Mas não foi ela a matá-los com as suas próprias mãos, incitou o seu irmão Orestes a realizar esse gesto e depois ajudou-o a enterrar o punhal. Depois de uma fase de fixação afectiva na mãe, durante a primeira infância, a jovem apaixonou-se pelo pai e tem ciúmes da mãe; ou então se não for correspondida pelo pai, tenderá a virilizar-se, para seduzir a mãe, ou recusando qualquer casamento, inclinar-se-á para a homossexualidade. De qualquer das formas, Electra simboliza o Amor passional pelos pais, muito especialmente e em primeiro pelo pai, ao ponto de os reduzir à igualdade pela morte. Nesta espécie trágica dum equilíbrio fúnebre pedindo aos deuses "justiça contra a injustiça" Electra alcança o símbolo do mito ao restabelecer a Harmonia desejada!
Esta lenda mitológica serviu como tantas outras para esclarecer com base científica muitos distúrbios humanos tanto a nível psicológico como mental.
Assim Freud mais tarde explica, que satisfeitas as necessidades básicas da fome e da sede, e segundo este psiquiatra o Id que é uma das 3 bases arquitectónicas do psiquismo (além do Super-Ego e do Ego) é conduzido pelos impulsos sexuais e por vezes agressivos. Segundo a teoria freudiana a criança é atraída sexualmente em relação ao progenitor do sexo oposto, e de princípio rejeita e teme o do mesmo sexo.
A rapariga pode sentir uma grande atracção, paixão pelo pai e rivalidade em relação à mãe. Mas o desejo relativamente ao pai é contrariado por várias condicionantes, o tabu, o proibido, o medo de ser descoberta, e isto explica psicologicamente a tendência de muitas mulheres para amores secretos e socialmente proibidos. A relação da rapariga com o pai, se este a facilita, diminui a sua autoridade, e pode a situação ser conduzida ao incesto. As proibições não são interiorizadas na rapariga da mesma maneira que no rapaz sendo a formação do Super-Ego menos marcante.
A interdição que incide no Incesto constitui para os dois sexos, a limitação mais importante da sua sexualidade. A atracção sexual sentida pelo pai ou pela mãe permanece na qualidade de primeira experiência amorosa, por vezes como modelo de todo o amor futuro.
A rapariga vive a fase fálica duma maneira diferente que no rapaz. Como foi dito, já no Complexo de Édipo, esta fase é o resultado dum conflito de desejos pulsionais e profundos recalcamentos gerados em muitas situações no decorrer da infância.
A fixação nos orgãos sexuais é obsessiva por vezes tanto no rapaz como na rapariga, e uma curiosidade premente leva a criança à descoberta do sexo oposto. Portanto a fase fálica na rapariga não é vivida da mesma forma que no rapaz. Nele gera o "complexo de castração", pois vive com mais interioridade a proibição, e sente-se castrado pelo rival, a rapariga não interiorizando tão profundamente a proibição gera o "complexo dum desejo sexual" fixando o orgão do sexo oposto. A menina é mais precoce na actividade sexual especificamente na masturbação, pois com cerca de 3 a 4 anos pode atingir orgasmos, criando uma obsessão e um isolamento para a prática do acto. Estes complexos originam mais tarde mais ou menos graves distúrbios psico-sexuais, tornando-se mais graves nos homens, assim como às neuroses e às perversões.
Na verdade a falta de cultura dos adultos, a ignorância consentida muitas vezes (torna tudo mais fácil), o medo de falar sobre assuntos tão naturais como a própria Natureza leva a desabrochar precocemente instintos básicos, primários nas crianças, que passam pela obsessão em que vivem recalcadamente a desconhecer outros valores na infinitude do leque da Vida que certamente os tornariam mais tarde adolescentes e depois adultos mais saudáveis, mais felizes!
O facto de se esconder aos jovens o papel que a sexualidade virá a desempenhar nas suas vidas conduz a uma deseducação trágica e às mais funestas perversões sexuais. Só produzem seres ansiosos profundamente inibidos no domínio afectivo e angustiosamente dependentes. As raparigas procuram frequentemente, e a nível inconsciente, nos homens o pai. O Complexo de Electra é muito mais, pois leva muitas mulheres já casadas a continuarem a ser perseguidas pelos pais, e elas a segui-los … irresistivelmente, numa luta titânica, num conflito gerado depois de culpas oprimidas, de vergonhas recalcadas! Muitos homens tal como as mulheres fazem com os seus filhos, permitem-se dormir com as suas filhas – meninas. Eles sabem que tem importância …
Muitos distúrbios psico-sexuais seriam inexistentes, se os valores criados na mente humana elevassem o Homem à dignidade, à Verdade sem omissões nem cobardes fugas, ao Amor traduzido nas mais salutares manifestações de afectividade. Se os valores criados na mente humana elevassem o Homem à Coragem, à Justiça, à Lealdade, e à vontade indómita de adquirir conhecimentos profundos da sua não menos profunda e imensurável actividade psíquica, na humanidade reinaria mais Harmonia, mais Amor!

Prontos agora as meninas podem divertir-se

O Positivismo na Vida




Aos poucos, o pessimismo suga-nos, leva-nos à destruição do ego e da nossa auto-estima. Nem sempre conseguimos encarar as coisas com o optimismo devido, por isso, Sorrir é urgente...
A história de vida da sua melhor amiga é uma desgraça pegada. Aquele fato novo que comprou o mês passado deixou de lhe servir, porque esse regime de dieta é quebrado várias vezes durante a semana. Para piorar ainda mais as coisas, no trabalho nem sempre o seu ponto de vista consegue ser o mais coerente, e o seu namorado perdeu todo o interesse por si.
Tamanhos pontos negros (não nos referimos àqueles que teimam em persistir no seu rosto) não podem dar-lhe muita alegria, ou sequer manter um ritmo de vida muito risonho. Tudo bem, tem razão! Mas, levar a vida sempre com uma núvem negra atrás de si, e fazer da sua pessoa uma autêntica escrava do pessimismo, não contribui para o seu estado de saúde psicológico.
A própria forma como a vida é gerida não é a mais correcta. Quando alguém nos questiona sobre o fim de semana o normal é respondermos ‘Passou-se mais um!’. Se alguém nos pergunta sobre o que temos feito, a resposta mais comum é ‘Nada de especial!’. E, se porventura, aquela amiga que não vimos há muito desabafa as suas amarguras, automaticamente arranjamos logo uma lista de desgraças, a maioria delas sem importância futura, só para a outra pessoa pensar que a nossa vida é bem pior do que a dela. Fazemo-nos de vítimas, sem nos darmos conta e, muitas vezes, sem necessidade alguma.
Conclusão: levamos a vida dominadas pelos infortúnios, negativismo e pelo lado negro que espreita de tempos a tempos, mas que fazemos questão de achar que é diário. Óbvio que nada é perfeito, mas esquecer um pouco o nefasto, e lembrarmo-nos das experiências boas, faz muito melhor à condição do ser humano. Entre o negativismo e o positivismo vai uma distância abismal: o negativista é um ser, à partida, fraco, que nada faz para mudar o seu destino, enquanto que o positivista é um lutador, fazendo de tudo para alterar o rumo das coisas e levar avante as suas convicções.
Precalços na vida todos têm, uns mais que outros, mas todos de resolução possível. A pessoa negativista ou positivista distingue-se, principalmente, pelo seu discurso oratório. O primeiro limita-se a contar o sucedido, exagerando nas explicações, nas causas e nos motivos, sem apresentar qualquer vontade de solucionar o problema. O segundo, encara o problema como uma etapa a ser ultrapassada, um ‘prosseguir’ no caminho, uma nódoa negra no presente, mas que rapidamente será ‘apagada’ no futuro.
O positivista encara as coisas más, ou menos boas, como um desafio, uma forma de aprendizagem e uma circunstância banal da vida. Já para o negativista, as coisas são vistas de outra forma: qualquer problema que surja não tem solução aparente, as derrotas são encaradas como isso mesmo, e não como um caminho de preparação futura, e a apatia perante novas lutas é mais que visível.
Dir-se-ía que os negativistas são vistos como pessoas mais ‘fracas’, mas que acabam por ter uma vantagem muito importante: levam a vida com mais cuidado e precaução. Os positivistas são muito mais sonhadores, embora sonhar seja positivo, mas podem acabar por não ter a noção clara da realidade. Assim, um negativista deve optar por uma vida mais límpida, e menos nublada, e o positivista por uma visão bem mais real do que utópica.
Embora ser positivista tenha as suas vantagens, acaba também por arrastar consigo alguns contratempos. Ainda assim, o mundo devia girar em torno daqueles que enfrentam a vida e que a conseguem levar com um sorriso nos lábios. Não se esqueça que por mais grave que um problema lhe possa parecer, há sempre alguém que possui uma história mais negra que a sua. O ideal é ser positivista com um laivo de negativismo.
Da próxima vez que alguém lhe perguntar como está, responda com um sorriso bem rasgado nos lábios ‘Óptima!’. Deixe para trás os ‘Mais ou Menos’ ou o típico ‘Vai-se empurrando a Vida.’. O positivismo, para além de lhe dar outra visão da vida, ajuda-a a um construir um futuro que, certamente, lhe oferecerá mais frutos do que esse presente sombrio para o qual julga ter saída. E o sol continuará a Sorrir, tal como você..

O Conhecimento do Inferno


"É o mundo-inferno dos loucos e da sua angústia sem remédio. Desliza aqui à nossa frente, submerso e apático, entre a noite das noites e a cruel indiferença dos vivos.

Como uma visão alucinada, um grito transparente de amargura ou, tão-só, uma voz calada na escuridão, os corredores de um hospital psiquiátrico de Lisboa ecoam para dentro deste romance toda a revelação das sua próprias paredes:

é o bolor e a humidade à face da pedra, mas não só isso;

entra profundamente no osso e na carne das mudas e isones criaturas que por lá se arrastam, sem mundo nem dia, isto é, sem direitos nem esperanças.

Entrando em relação com a velha solidariedade dos homens, o autor rompe todos os cordéis da solidão desses loucos.

Assume a sua voz ausente. Volta-se de frente para quantos policiam o tráfego das aves sem rosto.

É a crítica viva e urgente de uma certa prática psiquiátrica, tão obsoleta quanto desumanizante;

é a grande coragem de uma acusação, em forma de quase libelo, contra os demónios brancos cuja pele é também a dos anjos negros deste Inferno sem fogo. O seu Conhecimento consiste em desocultá-lo, em denunciar os seus ritos e decalques.

Conhecimento do Inferno, no quadro da produção romancística de António Lobo Antunes finda o ciclo da mesma viagem até ao fundo dos fundos. (...) Fim de uma trilogia romanesca, conserva ainda a equidistância dos espaços e da acção daqueles dois livros [ Memória de Elefante e Cus de Judas ], mas vai desta vez mais fundo no seu sentido polémico, contestando as coisas e o nome que têm as coisas.

São aliás dois infernos perante o mesmo espelho, como uma equação matemática porque a guerra de África aconteceu nas mãos sangrentas destes mesmos homens. Há a mesma prisão e o mesmo sonho acordado pelo medo; mas, ainda e sempre, as mãos da guerra fazem a autópsia dos vivos.

Carloki

Uma ideia fixa parece sempre uma grande ideia, não por ser grande, mas porque enche todo o cérebro.
(J. Benavente)

McDonaldização.


Termo controverso originalmente cunhado e desenvolvido por George Ritzer, sociólogo norte-americano da Universidade de Maryland, para se referir à radicalização do processo de racionalização nas sociedadescontemporâneas.

McDonaldização, diz-nos Ritzer, "é o processo pelo qual os princípios do restaurante de comida rápida estão a dominar cada vez mais sectores da sociedade norte-americana, bem como do resto do mundo" (Ritzer). Esse processo assenta então, segundo o autor, na consolidação e generalização do modelo da indústria da "fast-food" enquanto paradigma organizacional e social predominante na contemporaneidade.

Esse paradigma, crescentemente hegemónico, fundamenta-se em cinco princípios básicos:

eficiência,

calculabilidade,

previsibilidade,

controlo acrescido

substituição de tecnologia humana por tecnologia não-humana.

Após a publicação da obra de Ritzer, um clássico da análise sociológica dos anos noventa, alguns autores procuraram reformular o argumento do autor recorrendo a termos não menos originais. Alan Bryman, por exemplo, tem proposto um conceito improvável e inaudito: a «disneyzação da sociedade».

Do corpus à cognição: aspectos cognitivos de semântica textual


O computador constitui, na actualidade, um poderoso recurso no estudo das línguas para fins específicos: ele permite analisar enunciados, inventariar contiguidades estruturais relevantes, relacionáveis com as abordagens cognitivas, permitindo desenvolver, sobretudo a partir do final da década de 70, as próprias ciências cognitivas, a linguística, a filosofia e as neurociências.

O termo cognitivo reenvia-nos para as ciências ditas cognitivas, domínios de investigação com desenvolvimentos muito recentes, que se alimentam em grande medida das conquistas da inteligência artificial.

O computador tem-se revelado, com efeito, capaz de simular as condutas inteligentes do homem, tais como compreender e conhecer, actividades até há pouco julgadas intransferíveis.

Relacionando a psicologia cognitiva com a linguística computacional, interessa-nos, neste momento, o conhecimento sobre as situações e acontecimentos expressos pelos esquemas humanos.

O conceito de esquema foi utilizado por Piaget para designar um tipo de estrutura assimiladora do conhecimento.

Bartlett, em 1932, usou-o para explicar as deformações sistemáticas observadas na reprodução de histórias, portanto, também em actividades ligadas à psicologia e às línguas.

Nas ciências cognitivas, a noção de esquema foi introduzida para salientar o papel desempenhado pelos conhecimentos na compreensão, na memorização e na produção de inferências. Esta noção foi usada por Schank e Abelson (1977) para descrever os scripts ou organizações de eventos, de acções finalizadas, cenas da vida quotidiana, tais como as realizadas nos restaurantes, nos cafés, nos bares, nos supermercados, nos bancos, no consultório do advogado ou do médico.

Naturalmente que as situações descritas pelos esquemas, tais como café, restaurante, médico, podem ser representados por conceitos, formando uma rede semântica. Todavia, o conteúdo cognitivo que deles se tem, quando se pensa em termos de conceitos, não é o mesmo quando neles se pensa enquanto esquemas:

- No primeiro caso, não existe qualquer informação sobre o cenário «tomar um café no café» ou «consultar o médico no consultório»;

- No segundo caso, fica-se na posse de uma informação global sobre os cenários. Este segundo aspecto levou Corson, (1987) a considerá-los como blocos de conhecimento, recuperáveis em memória como tais. Por este motivo, são considerados autónomos, tendo todo o sentido em si mesmos e definindo as propriedades dos contextos mais frequentes ao serem estabilizados nos conhecimentos de qualquer sujeito sobre o mundo e as suas situações - os conhecimentos infra-linguísticos.

A psicologia cognitiva interessa-se pelo conhecimento que o ser humano possui sobre eventos e cenas do mundo quotidiano, sobre lugares familiares, sendo referidos três domínios: as histórias, os scripts e as cenas ou cenários.

- As histórias representam esquemas que se lêem, se ouvem ou se vêem. Estão presentes no imaginário dos sujeitos e muitas vezes remontam a tempos imemoriais.

- Os scripts representam eventos quotidianos, rotinas do lazer e trabalho diário.

- As cenas, por fim, representam lugares nos quais as rotinas diárias têm lugar.

Estes três tipos de estruturas, desprezadas durante séculos sob o ponto de vista cognitivo, têm algo em comum, no que se refere à estrutura. É suposto estarem representados na mente humana por formas esquemáticas de organização.

Schank e Abelson (1977) usaram o termo script para se referirem a estruturas de conhecimento estereotipadas. Assim, a estrutura do script café aproxima-se da de restaurante, ida ao médico, ao advogado, nos aspectos mais sensíveis.

Cada script é concebido como tendo cabeça - o título, podendo este ser dividido em cenas. Para os referidos autores, o esquema restaurante terá quatro cenas: entrar, preparar-se para comer, comer, sair.

Cada cena envolve um número variável de acções. Assim, a cena entrar consiste em o cliente entrar no restaurante, procurar a mesa, decidir onde sentar-se, ir para a mesa, sentar-se. Preparar-se para comer consiste em pegar no menu, lê-lo, chamar o empregado e encomendar. Associadas a estas acções típicas, há igualmente os papéis típicos: do cliente, do empregado, e os apoios típicos da mesa, cadeiras e menus.

A organização do conhecimento sobre as cenas e lugares possui características comuns aos esquemas de eventos: a organização é hierárquica e os esquemas menores estão encaixados nos maiores. Qualquer sujeito não tem só o esquema de cozinha, quarto, supermercado ou parque mas também das partes unitárias. Sabemos que há objectos obrigatórios.

Uma sala de jantar contém paredes, janelas, mesas, cadeiras, mas só quando estas partes estão numa organização em que várias cenas emergem.

As relações, no esquema das cenas, são espaciais, não temporais. Algumas parecem ser de carácter obrigatório, outras de carácter opcional: a mesa deve estar assente no chão, as janelas nas paredes, enquanto o bufete pode estar à esquerda ou à direita da mesa, sem especificação.

Na organização do conhecimento do esquema da cena, Johnson (1976) e Mandler e Parcker (1976), referidos por Fayol (1985), consideraram existir dois factores: o primeiro constituído pelo inventário da informação típica, simbolicamente obrigatória; o segundo pelas informações de relações espaciais, descrevendo um espaço igualmente típico para dispor a cena.

Quer para os esquemas de eventos, quer para os das cenas, há relações obrigatórias e relações opcionais. Nos dois casos, umas são mais importantes do que as outras, e têm diferentes efeitos na compreensão e na memória.

O domínio dos conhecimentos esquemáticos, nomeadamente os dos scripts, cenas e histórias desenvolveu-se com o estudo das inferências. Cunningham (1987) distingue inferências textuais, que se baseiam nos textos, de inferências pragmáticas, que se baseiam nos conhecimentos do sujeito ou nos seus esquemas.

Uma das características dos esquemas é que os mesmos são objectos complexos, constituídos por objectos elementares (os conceitos, as acções, as relações) ou ainda por esquemas mais gerais, que Schank (1982) designou por M.O.P - memory organization packet (pacotes organizados em memória). Assim, o esquema de evento ou script «ida ao médico» poderá conter um esquema mais geral «consulta», este comportando marcação de vez, deslocação ao consultório, espera na sala, encontro com o médico, pagamento, saída.

Outra característica é que os esquemas são estruturas gerais e abstractas, que se aplicam a situações concretas diferentes. Por isso, contêm um certo número de variáveis, lugares vazios, lacunas destinados a ser preenchidos por elementos de situações específicas pertencentes à situação mais geral representada pelo esquema.

Um outro aspecto a considerar é que os esquemas exprimem conhecimentos que não estão ligados a uma utilização particular: podem servir diferentes utilizações, tais como compreender, realizar, fazer inferências.

Os esquemas podem ser utilizados para compreender, para construir uma representação - sendo esta a questão-chave da psicologia cognitiva.

Se considerarmos a construção da representação pela particularização do esquema, sabemos que a mesma consiste em seleccioná-lo, substituir as variáveis do mesmo pelas informações específicas fornecidas sobre a situação. É um processo guiado pelos conhecimentos em memória, e cujo resultado é um esquema particularizado.

Para Richard (1990), o esquema tem duas funções possíveis: a de inferir, de interpretar os elementos do texto, supondo que se possuem já as informações que permitem seleccionar o esquema adequado e a de permitir integrar um certo número de elementos de informação numa significação mais geral que os resuma - a generalização.

No primeiro caso, interpretar os elementos dum texto significa dar-lhes um lugar no esquema. Assim, se numa passagem narrativa, por exemplo, surgir uma passagem com elementos como: marcação de consulta, chegada à hora marcada, convite para entrar, existência de pessoas sentadas lendo revistas, provavelmente, nessa passagem e em situações equivalentes, o esquema Encontro profissional é activado e permite a qualquer sujeito, sem outros detalhes textuais, compreender que a senhora que convidou para entrar era a secretária, que as pessoas sentadas eram os clientes, permitindo também inferir as informações em falta: haveria uma sala de espera, um cliente teria sido atendido, teria certamente saído. Verifica-se, pois, que o enunciado não precisa de conter explicitamente todas as informações a que o leitor tem acesso, porque este não experimenta dificuldades na resolução do problema. É que uma vez identificado o esquema, este permite inferir as informações em falta.

A ausência de informações explícitas nos textos e a observação da capacidade manifestada pelos sujeitos para resolverem as dificuldades, levou os investigadores a colocarem a hipótese de que os sujeitos efectuariam inferências à medida que tratam a informação nova, quando pretendem compreender.

Estas inferências assentariam, em grande parte, nos conhecimentos que os sujeitos possuem na memória a longo prazo, relativamente ao mundo quotidiano, nos conhecimentos infra-linguísticos.

Se nos reportarmos, agora, à segunda das funções acima referidas, obtemos uma significação mais geral, uma generalização. Assim, se lermos num qualquer texto, que a Maria chegou à estação de caminho de ferro, comprou um bilhete, consultou o horário, poderemos resumir as informações através da frase: Maria vai viajar.

Estas funções do esquema levaram Abbott e Black (1985) a concluir que nos scripts se pode ir do esquema às suas componentes, do geral ao particular, do particular ao geral, podendo ocorrer os dois tipos de inferências.

Há sobre os esquemas duas questões julgadas importantes: a primeira diz respeito ao modo como são seleccionados; a segunda aos conhecimentos que podem ser introduzidos na representação.

Quanto à primeira, é suposto os esquemas poderem ser seleccionados directamente a partir dum nome que os etiqueta, dum título ou expressão que permite o acesso a estes.

A segunda questão respeita aos conhecimentos do esquema, que podem ser introduzidos na representação.

Experiências efectuadas por Abott e Black (1985), levando os sujeitos a reconhecer nos textos as acções pertencentes e as não pertencentes ao esquema, conduziram os investigadores a concluir que a informação do esquema é integrada na representação, mesmo quando explicitamente ausente do texto. Outros investigadores, levando a efeito outras experiências com o mesmo objectivo, concluíram igualmente que um esquema de situação seria um bloco de conhecimento activado simultaneamente.

Passamos agora a referir uma breve experiência por nós realizada, propondo a um número reduzido de sujeitos adultos que nos relatassem uma das suas idas ao café. Dos trabalhos realizados seleccionámos 15 enunciados, verificando que a frase, que constituiu a proposta, funcionou como título, como cabeça, activando, em bloco, o esquema café: os eventos obrigatórios do esquema, as cenas típicas, bem como os auxiliares obrigatórios das mesmas, que estão presentes na maioria dos enunciados. A quase totalidade dos sujeitos referiu-se às cenas típicas: entrar, sentar-se, tomar café e sair.

Nem todos pagaram, mas todos os sujeitos enunciados por eu ou por nós procuraram uma mesa para se sentar, chamaram ou esperaram a chegada do empregado. Verificou-se haver enunciados reduzidos às cenas típicas. Assim, num deles lê-se: Sentei-me no café; Chamei o empregado de mesa; Pedi-lhe que me trouxesse um café e um copo de água; Paguei a conta e saí.

Num outro lê-se: estávamos no H2O sentados numa mesa à espera que o empregado nos servisse; A Teresa (a cliente) chamou o empregado e pediu um guaraná; Pagou a bebida com uma nota de mil escudos; O empregado deu-lhe o troco; A Teresa foi-se embora.

O esquema café permitiu também activar outros esquemas, como os de Leitura, Encontro, pois sabe-se que o café é um lugar onde se tomam bebidas, se comem bolos, se compram gelados, mas é igualmente um lugar de distracção, de leitura, de convívio, de discussão de problemas.

Os dois esquemas referidos foram activados em alguns dos sujeitos. Num dos enunciados lê-se: Ao canto, numa mesa, uma moça sozinha lia um livro com capa amarela; Perguntei-lhe se me podia sentar à sua mesa; Começámos a falar. Naturalmente que estas cenas não são obrigatórias no script café, são facultativas e, por isso mesmo, mais dificilmente tratadas em memória.

No caso da aprendizagem de uma língua específica, a activação dos conhecimentos dos alunos adquiridos no contacto com os livros pode facilitar a aprendizagem, mas esta poderá ser facilitada, se forem activados os conhecimentos adquiridos no contacto com o quotidiano.

É que, como salientou Cunningham (1987), as inferências podem ser textuais e pragmáticas. E falar em inferências é pensar que os sujeitos vão além da compreensão literal, vão além do que está explícito na superfície textual. É necessário que o professor considere as duas categorias de inferências: as baseadas no texto - inferências lógicas e as baseadas nos esquemas do sujeito - inferências pragmáticas. Dado que as inferências se apoiam no conhecimento dos sujeitos, quanto mais conhecimentos, mais inferências, não apenas pragmáticas mas também criativas.

É sabido que a capacidade de inferir dos indivíduos se inicia na infância e se vai desenvolvendo com a idade, contribuindo para o seu desenvolvimento as inferências feitas no contacto com o quotidiano e também com os livros.

Giasson (1993) salienta que os sujeitos, sobretudo os mais novos podem fazer inferências, ainda que, os mesmos sejam pouco organizados no seu percurso.

Conforme salienta Giasson, Johnson e Johnson (1986) classificaram as inferências pragmáticas ou baseadas nos esquemas do sujeito em dez tipos:

de lugar, de agente, de tempo, de acção, de instrumento, de categoria, de objecto, de causa-efeito, de problema-solução, sentimento-atitude.

Nos nossos enunciados, no script café, os 15 autores dos enunciados activaram a inferência de lugar: Ao café; ao D. Inês; à Ópera; ao H2O; àquele bar.

Também, mas em menor número, foi activada a inferência tempo: Depois do almoço; Duas da tarde; depois de uma pratada de (...); Hoje.

A inferência agente da acção foi activada em todos os sujeitos: nós, eu, o empregado, a Teresa, a Joana. Há casos em que o agente se mantém apenas implícito;

As inferências pragmáticas de acção foram activadas em todos os sujeitos, todos sabem o que fez o eu, o nós e o que fez o empregado: sentei-me, pedi um café; pedi um café e um bolo; chamei o empregado; paguei a conta; O empregado deu-lhe o troco.

Igualmente as inferências pragmáticas de problema-solução foram activadas: situações como - esquecemo-nos de pagar/a D. Inês chamou a nossa atenção; Foi mal servido/não pagou. Neste caso, saliente-se que, como nas histórias, nem todos os problemas tiveram solução.

Surgem, aqui e além, activadas as inferências de sentimentos-atitudes: o António exaltado; contrariada pedi; Qual foi o nosso espanto; ficámos irritados; virei-lhe as costas; muito triste.

Como podemos concluir, a partir das reflexões apresentadas, há inferências ligadas aos conhecimentos dos textos, outras ligadas aos conhecimentos dos esquemas dos sujeitos.

Considerando a investigação aplicada, sabe-se haver menos pesquisas realizadas sobre o estudo das inferências lógicas do que sobre o estudo das inferências pragmáticas.

O professor, enquanto facilitador da aprendizagem, poderá, em situação de ensino directo, continuar a enfrentar desafios, propondo aos seus alunos actividades que lhe permitam conhecer bem a compreensão literal e a compreensão inferencial dos seus alunos, levando-os a distinguir claramente as inferências lógicas ou textuais das inferências pragmáticas.

Se as inferências pragmáticas geram esquemas que facilmente se activam a partir do todo e também dos seus elementos, facilitando a compreensão, há que pensar estratégias adequadas e facilitadoras da compreensão.

Embora a capacidade de inferir se desenvolva com a idade, a escola precisa de gerar estratégias adequadas para ajudar os mais novos a desenvolver a capacidade de inferir e de organizar as inferências.

Este breve estudo permitiu colocar a análise computacional de enunciados ao serviço do estudo de um corpus e da abordagem deste em termos da compreensão dos sujeitos, procurando evidenciar os elementos relevantes e obrigatórios nos scripts e nas cenas, a partir da inventariação de contiguidades estruturais reveladoras de aspectos semânticos e cognitivos. Todavia, esta técnica apresenta limites: apenas é possível inventariar o que está explícito nos enunciados.

SEXO ENTRE MENTIRAS

Quando o companheiro a traiu, a M começou a sair todas as noites com uma amiga; e o destino terapêutico era uma tasquinha simpática frequentada por jovens artistas e candidatos a escritores.

Numa mesa resguardada no fundo da sala, luz directa inexistente, ela e a amiga trocavam impressões sobre a mágoa e a traição; conversa temperada com muito espiritualismo ainda que o assunto do momento fosse sexo.

Alguns copos depois sobre a mesa, a M e a amiga tinham a companhia de dois jovens solitários como elas.

A espiritualidade do encontro mantinha-se como um incenso, e talvez por isso um dos jovens perguntou a M se ela tinha alguma fantasia sexual, e se estaria na disposição de a revelar na presença deles.

O espírito de M não estava completamente debaixo da linha do álcool e despistou as intenções do rapaz perguntando-lhe o que é que ele fazia na vida.

Era escritor. Escrevia sobre pessoas que acabava de conhecer, como a M. Queria saber tudo sobre o sofrimento.

Dizia que era um recuperador de corações.

Um estilista na arte de transformar o inferno em que os outros vivem, num paraíso de existências amorosas.

Foi depois deste breve diálogo ( uma espécie de preliminar ), que a M pretendeu defender a sua sexualidade envolvendo-a num misticismo que quase a fez perder o contacto com o seu próprio corpo.

Como se a bebida lhe segredasse para se espiritualizar e aceder ao convite do jovem escritor.

Estava a ser possuída por uma sensação mentalmente sensual.

A corporalidade sexual de M extinguia-se para dar lugar a uma nova ordem de prazer. Seria a espiritualidade do sexo uma imponente masturbação psíquica?

M pediu licença para se levantar e dirigiu-se ao wc. Olhou-se no espelho e viu-se nua. Nua como se tivesse saído da cama depois de ter feito sexo. Levou alguns instantes a recuperar os sentidos. Na realidade, M nunca sentira um orgasmo tão intenso como aquele.

Corporalidade e personalidade

Corporalidade e personalidade

O homem é uma estrutura de corporalidade e espiritualidade. O espiritual tem uma expressão também corporal. Diversos aspectos da alma exprimem-se em diversos aspectos do corpo. Vemos com os olhos, ouvimos com os ouvidos, falamos com a boca, exprimimos a nossa alegria ou tristeza com a cara, os gestos, a voz. Dançamos, gritamos ou saltamos, rimos e choramos. E tudo isto são expressões corporais de situações do nosso espírito. Como diz o ditado, "a cara é o espelho da alma".

Do mesmo modo, a sexualidade, para além da sua função generativa, é, na sua dimensão mais elevada, expressão corporal da nossa capacidade de amar, de entregar-nos a outra pessoa e receber a sua entrega. A liberdade e a capacidade de amar são o maior e o mais íntimo que tem a pessoa humana. Por isso a sexualidade, na medida em que é a sua expressão corporal, afecta o homem de maneira íntima e profunda, tanto para o bem como para o mal.

O carácter pessoal do corpo

O corpo é uma parte da personalidade humana. Como vimos, somos pessoas de carne e osso e para nos expressarmos e realizarmos necessitamos do nosso corpo. Fazemos tudo através dele. Para que essa expressão e realização saia bem temos de treinar o corpo. Há que aprender a dançar, a escrever, a andar, a falar, a pintar, a praticar qualquer desporto, a cantar e inclusive a comer. Se não, essas actividades fazem-se mal, duma forma tosca, sem graça, como pessoas incultas ou como animais. Para todo o tipo de expressão é necessário ter um corpo bem treinado. Esse treino é o modo de "personalizar" o corpo, para que não seja simplesmente carne e osso, mas expressão do meu eu, dos meus gostos, da minha pessoa. Através do treino e da educação, o corpo integra-se na nossa personalidade e permite-nos desenvolvê-la. O treino faz que a unidade de alma e corpo seja algo operativo, prático.

Se não há treino, ainda que a pessoa queira expressar-se e realizar-se, não poderá, sentirá a frustração de não poder comunicar o que tem dentro, de não poder realizar os seus sonhos. Em lugar de cantar, sairão uns uivos próprios de animais; em lugar de dançar, uns movimentos desajeitados e ridículos; em lugar de saber exprimir-se, falará como um inculto e não poderá transmitir o que sente; em lugar de comer com dignidade, parecerá um animal que satisfaz os seus instintos e provocará repugnância. Isto é uma coisa que todos sabemos.

Ora bem, o mesmo se passa com a nossa sexualidade. É a expressão corporal da nossa capacidade de amar e de nos entregarmos por inteiro, mas se não a educarmos, em lugar de servir para expressar e realizar o amor, arrastar-nos-á a comportar-nos como animais, como se passa com quem não sabe falar ou não sabe comer. Que a sexualidade seja expressão de amor é algo exclusivo e típico do homem. E, como tudo o que é tipicamente humano, é algo que está por realizar, algo que há que conseguir com base no exercício da própria liberdade.


A expressão corporal do amor

Se o corpo é a expressão da alma, o amor expressa-se também através do corpo. As expressões corporais de carinho têm sentido quando há um verdadeiro amor entre as pessoas. Não basta a atracção física ou o simples enamoramento afectivo, deve haver pelo menos um começo de amor conjugal. Então é verdade que essas carícias são expressão de amor.

Se não, do que são expressão é da fome de prazer ou de afecto. E o outro não vive como uma pessoa a quem me entrego, mas como um objecto que satisfaz o meu apetite sexual, do mesmo modo que um caramelo satisfaz o gosto. Quando se usa outra pessoa desta maneira, não a amamos, nem sequer a respeitamos, porque se utiliza a sua intimidade.

A utilização sexual rebaixa irremediavelmente a pessoa, precisamente porque não pode deixar de afectar a sua mais profunda intimidade. Uma vez que o sexo é expressão da nossa capacidade de amar, toda a utilização sexual chega ao mais íntimo e implica a totalidade da pessoa espiritual. O próprio facto de usá-la como objecto já é uma falta de respeito para com a sua pessoa, do mesmo modo que se se usasse o seu corpo para proteger-me dos disparos que outro me pudesse fazer. Isso vai contra a sua dignidade. A experiência indica depois quando algo é expressão de carinho ou simples fome de prazer. Se é simples fome de prazer, é mau, porque estou usando, não amando.



O sagrado ( não é o Sacro )

Meus caros e caras
Com estas questões do sagrado e como estou á espera que um alemao acabe uma reunião para falar com ele vou escrever aqui uma pequena coisa que deixo á vossa meditação acerca do que é o Sagrado ou melhor o que deveria ser sagrado na vossa prespectiva.
Para mim existe apenas uma coisa que é sagrada e que se o fosse para toda a gente o mundo seria uma maravilha, ou se calhar iriamos morrer todos de inacção o que tambem é uma prespectiva plausivel.
Mas o que eu acho que é sagrado mesmo é :
" Ninguem deve dominar ou ser dominado "
Parece uma coisa simples e até lógica mas olhem como reflexão o que se passa á vossa volta e vejam os pequenos e os grandes exemplos de dominação.
Analisem os vossos proprios actos e vejam como mesmo sem se aperceberem estão a tentar dominar algo, alguem e muitissimas vezes se estao a tentar dominar a vós próprios.
Ou pelo lado oposto, tambem sucede estarem a procurar serem dominados, muitas das vezes sem se aperceberem disso.
Sim porque tal como existe o positivo existe o negativo e dominar-se tem as suas vantagens tal como ser-se dominado tambem tem as suas.
Infelizmente quem gosta de dominar nao tem pica para dominar o que gosta de ser dominado ( era matar 2 coelhos com uma cajadada ).
A raça humana é lixada, mas é isso talvez que nos faz humanos.
Tal como a Arvore acha que não se pode voar sozinho e a Maria acha que se pode voar sozinha , existe sempre um(a) cabra(o) que acha que pode dar dar um tiro ao raio do pássaro pq ele ousou voar.
Será que ele(a) estão errados ? dar tiros aos passarinhos não é lá muito ético ( embora já tenha sido moralmente aceitavel ), portanto meus caros pq não enrabar esse cabrão ou essa cabrona que anda a atirar tiros a passarinhos indefesos e assim prosseguirmos o ciclo de animal predador da existencia humana.
Sim porque o pobre passarinho enquanto voava sozinho ou acompanhado já estava a olhar para o chão e a preparar-se para devorar uma seculenta pessoa que tinha escolhido que aquilo que queria fazer na vida era rastejar e era isso que a iria tornar feliz.
Vou mas é chatear os cornos ao alemao que assim sempre me divirto com isto.
Carlex Pio III

Paganismo e Wicca

PAGANISMO E WICCA
Surge no século XX uma religião que pretende celebrar de fovo a natureza, que vai buscar a sua inspiração aos antigos cultos pré-cristãos da "Grande Mãe" (ELIADE,1949 pag.306), às celebrações dos ciclos anuais das colheitas, ao culto do Deus da Terra que periodicamente morre e renasce e a toda uma série de formas de expressão religiosa em que se encontra uma forte ligação à natureza e aos ciclos da vida.
Os objectivos do Paganismo são os do auto-conhecimento, da harmonia com os ritmos e ciclos naturais do sol e das estações , da compreensão dos poderes da natureza e a busca de um novo equilíbrio do homem com o seu meio Não se baseia numa teologia única ou definida, não possui profetas ou mestres.
Baseia-se na experiência e sensibilidade de cada ue que queira e seja capaz de praticar essa harmonia. Pode assim dizer-se que o Paganismo não pretende ser uma religião de massas mas pode ser considerada uma religião de "clero", ou seja, qualquer membro é "sacerdote" na medida em que entra em contacto directo com o divino e orienta práticas e rituais religiosos
Embora algumas correntes Pagãs afirmem que as suas tradições remontam à era Neolítica , ou mesmo que o Paganismo é o sucessor linear daquela que terá sido a primeira religião da humanidade, essas origens são muito discutíveis.
Muita da inspiração do Paganismo será proveniente de estudos efectuados sobre as religiões antigas, dos quais os mais citados são "O Ramo Dourado" de Frazer, "As Máscaras de Deus" de Joseph Campbell e "The Witch-Cult in Western Europe" de Margaret Murray.
Nalgumas tradições pagãs os seus membros consideram-se continuadores directos destas religiões antigas. Houve provavelmente uma busca de ideias, de processos, de rituais , uma outra visão do sagrado distinta da visão judaico-cristã que permeia as culturas ocidentais.
Foi com base nesta outra visão, bem como nalgumas tradições populares europeias, nos ensinamentos de diversas escolas ocultistas, em técnicas usadas pelos xamãs e num sem número de outras fontes que se foi construindo esta religião, chamada de Paganismo, Neo-Paganismo ou Religião Antiga.
Para ilustrar este processo, podemos aqui citar Starhawk, sacerdotisa norte-americana da Wicca (um dos ramos do Paganismo, de que falaremos à frente)
"A Wicca é realmente a Velha Religião, mas neste momento está a passar por tantas mudanças e desenvolvimento que, na essência, está mais a ser recriada do que revivida"
(The Spiral Dance, 1979).
Dentro do Paganismo existem diversos ramos, cada um dos quais baseado em tradições e mitos próprios.
Aquele que mais se tem desenvolvido, sendo neste momento o mais representativo, é designado Wicca, «Bruxaria» ou «A Arte»
Provém basicamente da tradição das Feiticeiras Anglo-Saxónicas e vai buscar muita da sua inspiração aos mitos e divindades celtas, galeses e irlandeses, recorrendo também no entanto a fontes clássicas (greco-romanas) e diversas tradições populares.
A Wicca é definida pela Pagan Federation como "...um caminho iniciático, uma religião de mistérios que guia os seus iniciados a uma profunda comunhão com os poderes da Natureza e da psique humana, conduzindo a uma transformação espiritual do indivíduo."
Uma frequente utilização da magia, entendida como um conjunto de técnicas capazes de manipular positivamente certas energias naturais, é a parte prática que mais distingue a Wicca de outros ramos do Paganismo, que se dedicam quase exclusivamente ao ritual celebratório.
A divulgação pública da Wicca começou no fim dos anos 40/ inicio dos anos 50 em Inglaterra , com a publicação por Gerald Gardner das obras "High Magic's Aid", "Witchcraft Today" e "The Meaning of Witchcraft", 1949, 1954 e 1959, respectivamente. O primeiro destes livros foi redigido em forma de ficção devido às leis anti-bruxaria vigentes no Reino Unido até 1951.
Embora muito criticado na época por quebrar a longa tradição secretista da Bruxaria, com a publicação destes livros, Gardner deu início a um movimento de expansão que até hoje não parou.
De Inglaterra a Wicca passou para o resto da Europa e para os E.U.A., não tanto como uma nova religião mas mais como um incentivo à divulgação de conhecimentos até aí secretos e a uma estruturaçãg básica para uma forma de manifestação religiosa individual , já então existente.
A forma como o Paganismo em geral e a Wicca em particular se têm desenvolvido é, com efeito, uma das suas características mais interessantes e que será, em alguns dos seus aspectos, analisada ao longo deste trabalho.
Existem hoje pessoas que se assumem como fazendo parte do movimento Neo-Pagão em toda a Europa, na América do Norte, Brasil, Austrália e Nova-Zelândia.
Os ramos multiplicam-se, as - Igrejas Pagãs são legalizadas em alguns países (E.U.A., Austrália, França) e estima-se que o número de praticantes atinja as centenas de milhar, sem que nunca se tenha ouvido falar de pregadores, «missionários», líderes carismáticos ou em apelos à conversão, semelhantes aos usados por outras religiões e movimentos espirituais para a sua expansão. Podemos realmente dizer que estamos perante
"uma religião sem convertidos"(Adler,M.,1979).

A Consciência Ecológica.

Sendo a Wicca uma religião da natureza, não é de espantar o seu interesse pelas questões ambientais.
Seja este interesse manifestado duma forma pública, através da colaboração com movimentos ecologistas e da participação em manifestações de defesa das espécies ou do meio ambiente, ou em privado tomando forma ritual ou mágico-simbólica, ele existe sempre como parte imprescindível da religião Pagã.

Os Wiccans sabem que
"...quanto mais se sintonizarem com o ambiente em que vivem e trabalham (...) mais significativa se tornará a sua religião, mais efectivo será o seu trabalho psíquico, maior a sua contribuição para o bem-estar e saúde de Gaia e mais realizadas e integradas estarão elas como seres humanos."
Este envolvimento com a natureza ultrapassa muito as formas profanas em que se faz normalmente a abordagem dos problemas ecológicos, transpondo o assunto para um nível em que a preservação da natureza/Gaia não tem apenas um interesse enquanto base material da vida humana, mas adquire uma dimensão sagrada, uma importância de per si que pode justificar mesmo o sacrifício de alguns interesses e benefícios humanos.
No inquérito realizado em 1985 nos E.U.A. por Margot Adler, diversas pessoas referiram que chegaram à Wicca através do seu interesse por questões ecológicas ou através do seu envolvimento com a natureza no seu dia-a-dia.
O Paganismo interpreta com maior profundidade estas questões ecológicas, uma vez que considera a natureza e qualquer dos seus elementos tão sagrados como o Deus ou a Deusa.
O respeito pela natureza é assim um valor intrínseco e fundamental no Paganismo.
Esta visão distancia-se de uma visão bíblica, na qual, ordenando Deus ao Homem que domine toda a terra e todas as criaturas viventes, pode justificar assim indirectamente a depredação que esse mesmo Homem tem feito dos recursos naturais.
Os Pagãos não têm , no entanto, um tipo de visão apaixonada e irreal dos problemas do ambiente.
São cidadãos urbanos ou rurais, conscientes dos problemas que assolam o mundo de hoje, que têm pela vida e pela humanidade um apreço tão grande como pela restante natureza. Os indivíduos que vão parar à Wicca, através ou não do seu desejo de intervir na salvaguarda da Terra, são pessoas que considerem o Homem e todas as outras criaturas viventes bem como os espaços onde habitam como sagrados.
O seu esforço é portanto dirigido simultaneamente no sentido da salvaguarda da natureza e no melhoramento da condição humana.
Na bibliografia consultada encontram-se diversas descrições e sugestões de rituais, práticas mágicas e acções ecológicas praticadas individualmente ou em grupo.
Em "Dreaming the Dark" é feita uma descrição expressiva de como as diversas abordagens política, religiosa, mágica e pessoal se conjugam numa mesma acção específica, como no caso da contestação à construção duma central nuclear numa zona sísmica da Califórnia:
diversos Pagãos protestaram publicamente em manifestações e além disso recorreram a rituais mágico-religiosos, para reforço do protesto.

O Individualismo Religioso.

A Wicca é uma religião em que não existem livros sagrados, nem profetas a justificá-los, hierarquia ou dogmas.
Não faz apelo a uma fé única e exclusiva, não tem mandamentos e promove acima de tudo o respeito e a diversidade.
Não é também um sincretismo religioso porque vários sincretismos são possíveis.
É uma escolha pessoal para aqueles que sentem que a sua percepçãg do sagrado não só não se enquadra nos esquemas tradicionais como é algo demasiado individual para se sujeitar a conjuntos de regras e crenças que outros determinaram.
As poucas regras existentes na Wicca têm um carácter essencialmente funcional e são vistas não como mandamentos duma qualquer divindade ou profeta iluminado, mas como simples normas de relacionamento entre pessoas que partilham interesses comuns.
São apenas alguns princípios genéricos ligados a valores ecológicos e individuais de largo consenso e à liberdade de expressão da religiosidade como é sentida e recriada por cada um.
O seu espírito está bem patente na regra básica "Faz o que quiseres desde que não faças mal", a única que todos os membros da Wicca procuram seguir
Esta diversidade exprime-se nas práticas de diferentes pessoas ou grupos.
Encontramos indivíduos que se assumem como monoteístas, politeístas, panteístas, e adeptos de tradições para quem apenas a Deusa é importante, ao lado de outras que dão o maior ênfase à polaridade, aos rituais e nomes de divindades retirados de todas as religiões conhecidas (e por vezes mesmo de obras fantásticas), nas mais variadas combinações cujos membros se relacionam num clima de aceitação e harmonia. Nas grandes reuniões, como o Pagan Spirit Gathering realizado anualmente no Winsconsin (E.U.A.) onde se juntam algumas centenas de pessoas, o relacionamento pauta-se por respeito e aceitação.
Durante uma semana realizam-se dezenas de rituais e workshops das mais diversas tradições sem que haja o mais leve atrito «teológico». Pelo contrário, o que se nota é uma constante curiosidade pelas crenças e rituais alheios e o desejo de partilhar e conhecer diferentes vivências religiosas.
A Wicca tem a sua maior implantação nos países anglo-saxónicos, onde a longa tradição democrática e o Protestantismo permitem um maior individualismo.
Para além de práticas individuais, os Pagãos agrupam-se em pequenos núcleos, tradicionalmente de 13 pessoas, cada qual com as suas regras e tradições; ainda se podem juntar em grandes encontros.
Nestes encontros estendem-se ao campo religioso os princípios de liberdade de expressão e de associação já há muito aplicados noutros sectores da sociedade.
Ao contrário de outras religiões e de outras organizações não existe aqui uma estrutura hierárquica nem uma autoridade central.

Conclusões

O Neo-Paganismo surge numa época em que somos diariamente confrontados com o aparecimento duma série de novas igrejas, seitas ou movimentos religiosos.
Como tal torna-se importante tentar situar o (res)surgimento público do Paganismo neste contexto e perceber quais as semelhanças e diferenças deste movimento religioso relativamente a outros.
Os movimentos pagãos estão a crescer e a aumentar o seu número de adeptos sem que, para isso abordem as pessoas, as aliciem a tornar-se membros ou façam campanhas de divulgação pública.
Não há dúvida que algumas das características do Paganismo se encontram também em muitas das novas Igrejas:
rituais participativos e que conduzem a estados de êxtase, uma relação com a divindade , mais próxima que nas Igrejas tradicionais, uma relação de proximidade, de irmandade, entre os seus membros, uma utilização da magia e ritual para conseguir diversos resultados práticos, como por exemplo a cura de doenças.
Contudo existem diferenças.
A primeira que se nota é uma quase completa ausência de prositelismo.
Não só os Pagãos não pretendem divulgar a sua religião porta a porta, como de um modo geral, não dão evidências explícitas de pertencer a este movimento. Esta atitude não se deve a uma intenção de secretismo, já que a qualquer pessoa interessada pelo Paganismo são dadas uma série de informação sobre rituais, grupos, publicações e actividades diversas.
Parece-nos que os pagãos optam por ter uma atitude discreta, pois pensam que a aproximação ao Paganismo deve resultar de uma escolha individual ditada por interesses e necessidades interiores de cada um.
É filosofia adoptada nesta comunidade «se estás interessado, procura-nos, se te sentes bem fica onde estás».
Esta discrição também se deve à falta de aceitação, ao medo e à desconfiança que a sociedade tem em relação aos Pagãos.
Ainda há um estigma que evoca sentimentos ambíguos quando nos referimos a Paganismo e Bruxaria.
Ainda temos reminescências dos tempos passados, em que as bruxas eram queimadas e perseguidas.
Verificámos, no entanto, que existe cada vez maior número de organizações Pagãs com o estatuto legal de Igrejas, lutando abertamente, e com bons resultados, pelo reconhecimento público de que a Wicca em particular e o Paganismo em geral são movimentos religiosos tão válidos com como qualquer outro.
Para compreender melhor esta aparente falta de empenhamento em granjear novos adeptos, devemos ter presente a natureza da Wicca, as suas estruturas internas e os interesses que movem os seus praticantes.
Como temos visto, a Wicca é uma religião sem um credo único e sem textos sagrados, baseada mais na ligação à natureza e ao arquétipo da Deusa Mãe e nos sentimentos e inspirações pessoais dos seus praticantes, do que em quaisquer textos ou ensinamentos.
É assim uma religião com um cunho marcadamente individualista.
À excepção de algumas ocasiões festivas em que se reúne um grande número de adeptos (geralmente de diversas tradições) para confraternizar e celebrar conjuntamente determinados momentos significativos como por exemplo, os Solestícios, os rituais são celebrados por pequenos grupos independentes ou isoladamente.
A quase totalidade das organizações Pagãs existentes têm principalmente um papel de intercâmbio e apoio, não pretendendo dirigir ou controlar os seus membros, que provavelmente não aceitariam qualquer espécie de controle.
As tentativas pontuais conhecidas, nesse sentido, não deram resultado.
Dentro deste panorama, qualquer ideia de «conversão» ou «missionarismo» é algo, entendido pelos Pagãos, como completamente alienígena.
A Wicca é uma religião sem convertidos, uma expressão compartilhada dum sentimento do Sagrado que lhe é próprio, não se conformando com regras impostas do exterior, com regras que não sejam decorrentes da vontade individual.
Em virtude desta forte componente individualista e da ausência de um conjunto de normas explícitas e vinculativas, não existe hierarquia religiosa.
Cada membro deve, assim, decidir, praticar e dirigir as suas práticas e rituais.

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